segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Acções, obrigações e "ruído de fundo"...


Traduzo aqui mais um bom artigo de Greg Harmon. Desta vez não se trata de análise técnica dos mercados, mas sim da relação entre obrigações e as acções. Dizem os manuais clássicos dos investimentos financeiros que, geralmente, as acções sobem quando as obrigações descem (e vice-versa). No entanto, as obrigações e as acções americanas têm estado a subir ao mesmo tempo e há quem faça leituras verdadeiramente transcendentais a respeito desta situação, chegando até a vaticinar o fim do Bull Market.

Ora, Harmon tenta desmistificar estas profecias, fazendo uma brilhante analogia neste seu artigo:

«Há muitas pessoas espertas que fazem questão de nos recordar que a subida do preço das orbigações não pode acompanhar a subida do preço das acções. Para mim, este argumento é como dizer que os cães e os gatos não podem dormir juntos.»

...ou será que podem?

«Um dos pontos que é levantado sistematicamente é "Como pode haver, ao mesmo tempo, procura de acções (activo com alto risco) e procura de obrigações (activo com baixo risco)?" Outro argumento é "As obrigações estão a aumentar a sua qualidade, portanto, as acções vão inevitavelmente acabar por cair". Não sei quando é que estes argumentos começaram a ser aceites como verdadeiros. Mas eu atrevo-me a discordar. Não há nenhuma razão pela qual as acções e as obrigações não possam subir em conjunto. E a história está do meu lado.»



O gráfico compara dois fundos transaccionáveis (ETF): o SPY, que segue o S&P 500, e o TLT, que segue as obrigações americanas a 20 ou mais anos. Ver também a análise semanal de Brian Shannon no tópico imediatamente abaixo.

«O gráfico acima mostra que entre 2003 e 2007 as acções e as obrigações subiram ao mesmo tempo. É um período de tempo bastante longo, mais ou menos 6 casamentos da [Kim] Kardashian. E há quanto tempo é que elas se têm movido ao mesmo tempo no presente Bull Market? Apenas cerca de 1 ano, dificilmente um período excessivo. Portanto, esqueçam a perspectiva histórica aceite -mas incorrecta- e concentrem-se na história real dos activos. Os cães e os gatos podem dormir juntos. E as obrigações e as acções podem subir ao mesmo tempo...»

Em jeito de conclusão, aqui o vosso estimado blogueiro até acredita que as acções e as obrigações estarem a subir ao mesmo tempo é um sinal positivo para a evolução a longo prazo dos mercados. É que os mercados alimentam-se de incerteza, das hesitações e dos temores irracionais dos investidores. Enquanto houver alguém disposto a vender por ter medo (comportamento irracional), continuará a haver compradores dispostos a aproveitar a oportunidade (queda dos preços), desde que os fundamentais se mantenham. Os mercados financeiros não sobem linearmente, sobem de forma ondulatória, "dois passos para a frente e um para trás". É por isso que devemos olhar sempre para a tendência de evolução geral dos activos, sejam obrigações, sejam acções, e deixar o ruído de fundo (notícias, opiniões, profecias, etc.) para a manada de perdedores que, devido ao seu comportamento irracional, nunca fará dinheiro em bolsa. Há outro nome para esta nossa postura: A Arte do Pensamento Contrário.

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